Importância
Clínica do Hemograma
O hemograma tem sido hoje uma das práticas mais uteis para o
diagnóstico clínico e mais utilizado na prática médica. Apesar de extremamente
comum, esse é um exame que ainda causa muita confusão na população, algumas
pessoas acham que todo exame de sangue é um hemograma, como se ambos fossem
sinônimos. Isto é um equívoco.
O hemograma é avaliação
qualitativa e quantitativa dos elementos do sangue. Alterações fisiológicas
podem ocorrer, por exercícios físicos e refeições gordurosas. Ele pode ser
subdividido em 3 partes conforme o enfoque na série vermelha, branca e
plaquetária. Eritrograma estuda as altetações nos eritócitos, na hemoglobina,
no hematócrito, nos índices globulares e na morfologia eritrocitária.
Leucograma estuda a contagem total de leucócitos, assim como as fórmulas
percentual e absoluta e o estudo da morfologia. Plaquetograma faz uma
estimativa do número de plaquetas e estuda sua morfologia. A análise do sangue
periférico pretende responder a duas questões principais: 1) a medula óssea
esta produzindo um número suficiente de células maduras de diferentes
linhagens? 2) os processos de proliferação, diferenciação e aquisição de cada
tipo celular estãos se desenvolvendo de maneira adequada em todas as linhagens
celulares? Alterações nesses dois quesitos básicos estão relacionados com
numerosas condições patológicas, e o hemograma tem como finalidade fornecer
respostas a essas questões. A diversidade de informações, embora em geral
bastante inespecíficas, que o hemograma pode fornecer, torna esse exame
subsidiário um dos mais solicitados nas práticas clínica e cirurgica.
1)Anemia significa
expansão da massa eritrocitária e policitemia a expansão desta.
2)Contagem de
eritrócitos: ao analisar os valores lembrar que o coeficiente de variação é de
5%. Eritrocitose significa aumento da contagem de eritrócitos.
3) Hemoglobina: os
valores exatos dependem da sensibilidade dos hemoglobinômetros
4) Hematócrito: o
microhematócrito retêm plasma de 1 a 4%, o que interfere nos indices, nos
contadores é calculado pelo numero x volume, sendo sempre 1 ou 2 pontos abaixo
da medida por centrifugação. Excesso de EDTA desidrata os eritrócitos, p que
reduz o hematócrito.
Normalmente há
correlação entre a massa de eritrócitos da amostra e a total. O aumento do
volume plasmático (pseudoanemia) pode ser encontrado na gravidez e
insuficiência renal, baço grande e uso excessivos de líquidos endovenosos. A
diminuição no volume plasmático (pseudoeritrocitose), no uso de diurético, na
desidratação, na obesidade, no estresse e em queimaduras. Diminuição harmônica
na volemia ocorre em hemorragia no início e prematuridade. Aumento harmônico da
volemia ocorre em transfusão de sangue.
Morfologia eritrocitária
1) Macrocitose : o VCM (volume corpuscular médio) se encontra acima
de 110, nesse caso o alcoolismo é a causa comum, mas deve-se manter a atenção
especial na gravidez e idosos; nesse caso procurar por hipersegmentação
neutrofilica que está presente nos casos de deficiência de vitamina B12 e ácido
fólico. É causada por hiperregeneração da medula, ou síntese alterada do DNA.
2) Microcitose e hipocromia: deficiência na síntese de hemoglobina (deficiência
de ferro e talassemias)
3) Anisocitose : presença de macro e microcitose ao mesmo tempo, sem
predominância e seu significado pode ser incerto
4) População dupla: presença concomitante de eritrócitos normais e anormais,
como encontra-se nas anemias hipocrômicas tratadas por transfusão ou nas
primeiras semanas do tratamento com o ferro.
5) Policromasia e reticulocitose: eritrócitos jovens com DNA citoplasmático
coram-se azulados na coloração usual, os ribossomas serão visíveis em coloração
supra-vital. Permanecem de 20 a 30 horas na circulação e depois amadurecem.
Reticulocitose significa aumento da eritropoese, como resposta normal a anemia
e a hipoxemia, começa no 4° dia, máximo aos 8-15 e depois diminui.
6) Poiquilocitose: alterações da forma do eritrócito.
6.a) Esferócitos: defeito de membrana por alteração genética da espectrina
(esferocitóse hereditária) ou agressão por anticorpos (anemia hemolítica
imunes, após transfusão)
Quadro laboratorial na
esferocitose:
- Hemoglobina diminuida
- Poiquilocitose (esferócitos)
- VCM normal ou levemente aumentado
- Podem aparecer eritroblastos
- RDW > 14 (hemácias de diversos tamanhos)
- Série branca e plaquetária normais
Outros ensaios
laboratoriais na esferocitose:
- Coombs direto positivo
- Reticulócitos aumentados
- Bilirrubina aumentada
- TGO e LDH aumentado
O teste específico para esferocitose é PFO (prova de fragilidade
osmótica)
Protocolo segundo o HEMORIO para o tratamento do paciente com
esferocitose:
*AVALIAÇÃO CLÍNICA
Anamnese
Exame clínico completo
Orientação sobre a doença
Fornecer manual explicativo sobre a doença
Iniciar ácido fólico
*AVALIAÇÃO LABORATORIAL
Hemograma completo
Curva de fragilidade osmótica incubada
Bioquímica (glicemia prova de função hepática,
renal e eletrólitos)
Sorologias (HIV, HTLV, hepatites A, B, C, Chagas,
VDRL)
TAP e PTT
EAS e Parasitológico de fezes
*ACOMPANHAMENTO AMBULATORIAL
O acompanhamento ambulatorial subseqüente será
quadrimensal precedido de exames laboratoriais (hemograma completo,
bioquímica).
Exames sorológicos serão realizados
anualmente.
Estão incluídos neste acompanhamento apenas os
pacientes com idade inferior a 18 anos. Além desses, os pacientes
sintomáticos com Hb <11g/dl de qualquer
idade.
*DIAGNÓSTICO:
Presença de numerosos esferócitos no sangue
periférico.
Teste de fragilidade osmótica incubada
positivo
CHCM >25g/dl
Hb entre 8-13g/dl
Reticulocitose
Bilirrubinemia indireta
*TRATAMENTO:
Uso de ácido fólico
Esplenectomia
Veja PROTOCOLOS HEMOTERÁPICOS
*INDICAÇÕES DE ESPLENECTOMIA:
1-Anemia hemolítica importante (Hb <8g/dl) com
hiperesplenismo;
2-Atraso no desenvolvimento;
3-Anemia hemolítica moderada (Hb<11), mas com
sintomatologia e complicações relacionadas com a anemia/hemólise como
litíase biliar, ulcera de pernas, ou massas
eritropoéticas;
4-Crianças com hemólise grave (Hb<6) devem ser
esplenectomizadas mais precocemente, mas não antes dos 3-4 anos de idade.
*INFECÇÕES:
Os indivíduos esplenectomizados apresentam maior
propensão a sepse por Pneumococcus, Neisseria meningitidis,
Escherichia coli, Haemophilus influenzae,
Estafilococccus e Estreptococcus. Devem por isto fazer vacinas antipeumocóccica,
anti-menigocócica, e anti-Haemophilus, antes da
esplenectomia.
Após esplenectomia deverá ser feita profilaxia
antibiótica por 1-2 anos com penicilina benzatina (600.000UI) em crianças 10-
20Kg e 1.200.000UI acima 20Kg) ou penicilina oral
10mg/kg de 12/12h na criança e 250-500mg de 12/12h no adulto). Nos
pacientes alérgicos usar eritromicina em dose
usual.
*TROMBOSE
Indivíduos esplenectomizados apresentam maior
incidência de trombose, portanto devem ser mantidos em uso de AAS
6.b) Eliptócitos: quando se têm a presença de eliptócitos é devido a um
defeito hereditário de membrana, o paciente portador dessa poiquilocitose
chamamos de Eliptose Hereditária ou adquirida, como nas anemias hipocrômicas,
megaloblástica e síndromes mieloproliferativas.
Relato de caso: Eliptocitose hereditária diagnosticada em paciente idosa. Relato de caso*
6.c) Drepanócitos: geralmente o paciente que tem no hemograma a presença de drepanócitos é um paciente homozigoto da HbS, e para confirmar a anemia falciforme deverá ser realizado o teste de falcização e eletroforese de hemoglobina.
6.c) Drepanócitos: geralmente o paciente que tem no hemograma a presença de drepanócitos é um paciente homozigoto da HbS, e para confirmar a anemia falciforme deverá ser realizado o teste de falcização e eletroforese de hemoglobina.
6.d) Estomacitose: é geralmente artefato, poucas vezes tem significado clínico
e quando têm pode ser devido ao uso de asparaginase, doenças hepáticas, recém
nascido ou carácter hereditário.
6.e) Equinócitos: são hemácias de características crenadas, pode ser
considerado um artefato de lâmina produzida por substâncias alcalinas, pode ser
em raros casos diagnóstico de uremia, hepatopatias, uso de heparina venosa e
hipotiroidismo.
6.f) Acantócitos: aparece devido abetalipoproteinemia, também está presente na
deficiência de tocoferol do recém nato, nas hepatopatias e no paciente
esplenectomizados
6.g) Dacriócitos: quando encontrado estão correlacionados com mielofibrose e
anemias megaloblásticas.
6.h) Hemácias fragmentadas: quando presente estão relacionados a lesão por
colisão em áreas de fluxo violento como nas válvulas cardíacas e próteses
arteriais, nas CIVD, em casos de queimaduras.
6.i) Eritoblastos: são eritrócitos nucleados, geralmente aparecem acompanhados
de uma policromasia devido as grandes regenerações eritroides, estão presente
no sangue periférico na metaplasia mielóide do fígado e do baço, na invasão
medular e aparecem juntos com células jovens granulocíticas.
6.j) Inclusões: Através da coloração supra-vital ou azul de cresil brilhante
identificamos os Corpos de heinz ( que estão presentes em
hemoglibopatias e defeitos enzimáticos), Corpos de hemoglobina H (
que estão presentes na talassemia). Na coloração usual poderemos encontrar os Corpos
de Howell-jolly ( são cromossomas aberrantes de mitoses anormais e estão
presentes em pacientes esplenectomizados), Pontilhados basófilos (
são RNA ribossõmicos encontrados nas talassemias, nos defeitos enzimáticos e
intoxicação por chumbo, entretanto se o sangue for coletado com EDTA ele não
aparece devido a ação do anticoagulante) Anéis de cabot ( são restos
nucleares de fuso mitótico e são raramente vistos das anemias megaloblásticas e
mielodisplasias)
* Leucograma
* Alterações qualitativas
Granulações tóxicas: não são sinais de mau prognóstico, indica
que os neutrófilos estão chegando a circulação com a granulaçõ primária
estimulados pela inflamação.
Corpos de Dohle: Sinal de infecção grave ou sistêmica, como a
pneumonia lombar e a erisipela
Hipersegmentação: geralmente relacionado a um defeito genético,
insuficiência renal crônica, deficiência de ácido fólico e vitamina B12,
quimioterapia, sindromes mielodisplásicas ou mieloproliferativas
Anomalias Nucleares: como a anomalia de PELGER-HUET que causa um
grande transtorno na prática médica confundido como um desvio a esquerda, visto
que esta anomalia dificulta a segmentação do neutrófilo, aparece em 1 à cada
3000/5000 pessoas.
* Leucocitose
È uma reação a várias infecções,
a processos inflatórios e a processos fisiológicos como por exemplo estresse
extremo. Essa reação é mediada por várias moléculas em respostas a eventos
estimuladores, tais como fator estimulador a colônias de granulócitos, fator
estimulador a colônias de macrófagos; interleucina 1, 2 e 3; e fator de necrose
tumoral, entre outros. A leucocitose constitui na resposta de fase aguda do
organismo a muitas doenças, incluindo-se infecções po: bactérias, fungos,
vírus, protozoários e espiroquetas.
* Leucopenias
Está associada a
uma ampla variedade de infecções virais e bacterianas. Quando causada por uma
infecção viral; por exemplo o vírus do Epstein -Barr, Hepatites A e B, vírus
Sinencial e Rubéola), geralmente as alterações agudas são notadas dentro de 1 a
2 dias de infecção e muitas vezes podem persistir durante várias semanas.
Considerar a presença de infecção por Salmonelas, Estafilococos e
micobactérias.
Nos portadores de Drepanocitose o leucograma geralmente
encontra-se entre 12.000 e 15.000 cél/mm³. Esta elevação decorre da mobilização
dos granulócitos periféricos para o sistema circulatório. A contagem de
neutrófilo segmentados costuma aumentar nas crises vaso-oclusivas e nas
infecções bacterianas.
* *Reação leucemóide --> São
elevações dos números de leucócitos acima de 50.000/mm³ levando as vezes a
confusão com leucemia. Existe muitos casos de reação leucemóide que pode ser
mielóide ou linfóides
* Neutrófilos: células móveis, fagociticas, com
função especializada de destruir microorganismos. São produzidos e armazenados
na medula ossea e liberado para o sangue periférico, através de mediadores
químicos produzidos pelo processo inflamatório. Certos estimulos mobilizam a
população marginal produzindo neutrofilia sem necessariamente envolver
liberação pela medula óssea: adrenalina e corticosteróides. Outro dado
importante é que lactentes com menos de 3 anos de idade possui uma reserva
pequena de neutrófilos e na presença de infecções graves, podem apresentar
neutropenias ao invés de neutrofilia. É importante salientar que crianças com
Síndrome de Down apresentam frequentemente leucocitose, neutrofilia, desvio
para esquerda e presença de formas imaturas, blastos, no sangue periférico. Na
maioria dos casos trata-se de um distúrbio mieloproliferativo transitório, mas
alguns pacientes podem evoluir para leucemia.
** Desvio à esquerda :a resposta inicial da medula óssea frente ao processo
infeccioso é a liberação da população de neutrófilos reserva. Ocorrerá também
aceleração do processo de maturação e liberação das células levando como
resultado o desvio a esquerda: que é a presença de maior quantidade de
bastonetes, podendo encontrar a presença de metamielócitos e mielócitos ou
células mais jovens.
** Neutropenia: neutrófilos menor que 1.500/mm³ são frequentemente associados a
infecções virais, fenômenos de Shwartzman, antibióticos como o cloranfenicol,
antiinflamatórios não hormonais, droga do tratamento da Aids, quimioterápicos e
dipirona.
* Trombocitograma
* Trombocitose: pode ser
encontrado na inflamação, anemias ferroprivas e pós hemorrágicas, artrite
reumatoide, pós operatório e pós esplenectomias e compensatória.
* Trombocitopenia: em
primeiro momento verificar a confirmação do resultado, abaixo de 80.000 o
paciente pode apresentar manifestações hemorrágicas. Possíveis causas: Púrpura
hemorrágica, grandes hemorrágicas tratadas com transfusão, viroses na infância,
esplenomegalia, CIVD, leucemias, aplasias, quimioterapia, radioterapia,
medicamentos, problemas estruturais das plaquetas, leucemias.
* Eosinofilos: aparecem aumentados nas infestações por parasitas, nas alergias e em casos mais complexos como algumas leucemias e na sindrome de infiltração pulmonar, no cancro dos brônquios e vários tipos de tumores. Ou simplesmente existe eosinofilia familiar, encontrando-se sempre aumentados sem que haja um estado de doença.
* Basófilos: pouco concorrem para a interpretação do hemograma. São praticamente inexistentes na rotina e o seu aparecimento em número elevado indica patologias graves, como a leucemia mielógena crônica, colite ulcerativa, artrite reumatoide juvenil, insuficiência renal crônica após radioterapia.
* Linfocitose: muitas infecções virais e doenças como a tuberculose, brucelose toxoplasmose podem podem apresentar linfocitose absoluta ( >5.000/mm³). Os pacientes com mononucleose infecciosa ou coqueluche podem apresentar linfocitose extremamente elevada >15.000/mm³). A presença de linfócitos atípicos acompanham frequentemente as linfocitoses secundárias a processos infecciosos (na mononucleose pode ser superior a 20% do total de linfócitos).
Linfocitose com presença concomitante de anemia, quadro purpúrico, plaquetopenia e dores ósseas devem levantar a suspeita clínica de leucemia linfoblástica aguda
* Linfopenia: Na reação de fase aguda, o hemograma frequentemente mostrara linfocitopenia absoluta (<1.500/mm³) refletindo a mobilização dos linfócitos a nível tecidual para reconhecimento antigênico. Na fase de convalescência, a contagem de linfócitos pode se elevar discretamente, retornando aos níveis normais posteriormente.
* Monócitos: são células fagocitárias, o que significa que digerem restos de outras células ou corpos estranhos mantendo o organismo livre dos mesmos. Assim aumentam na presença de infecções bacterianas como a tuberculose e na fase de melhoria de infecções agudas. Se a infecção se encontrar em estado agudo, os monócitos tendem a ser inferiores ao normal.
Casos clínicos:
*Consulta bibliográfica:
HOKAMA. N. K,. MACHADO.P. E. A Interpretação clínica do hemograma
nas infecções. JBM. Rio de Janeiro v.72, pág 38 - 49
RAPAPORT, S. I.
Introdução à Hematologia. 2 ed. ROCCA. SP
Link: http://www.hemorio.rj.gov.br/Html/pdf/protocolos/1_05.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário